A Associação Sergipana de Blocos e Trios (ASBT) está na mira dos artistas sergipanos. O destempero do empresário Fabiano Oliveira – que deu um tiro no pé e interpelou um estudante judicialmente, constrangendo o rapaz a comparecer diante de um magistrado para explicar porque teve a ousadia de compartilhar matéria publicada pelo Correio Braziliense numa rede social – saiu pela culatra e finalmente tirou a classe da letargia.
O coletivo de músicos Serigy All-Stars está recolhendo as assinaturas dos alforriados para devolver a chicotada do sinhozinho. Eles pretendem apresentar denúncia no Ministério Público Federal questionando a ASBT a respeito da utilização de recursos públicos repassados para a Associação. A suspeita de irregularidades foi levantada por relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), mas a insatisfação com a prévia carnavalesca realizada todos os anos com a bênção da Prefeitura de Aracaju e Governo do Estado de Sergipe vem crescendo há muito tempo, independente de eventuais conflitos com a letra da lei.
Cala a boca já morreu! – A matéria mencionada, causa e catalizador da indignação dos músicos sergipanos, foi publicada em 16 de dezembro de 2010, sem que qualquer ação judicial tenha sido imposta ao diário. Nela, o jornalista Lucio Vaz explica como a ASBT, uma associação sem fins lucrativos, consegue financiar uma festa privada com um montante milionário, retirado dos cofres do Ministério do Turismo por meio de emendas parlamentares.
De acordo com o Correio Braziliense, Albano Franco (PSDB), Jackson Barreto (PMDB), Jerônimo Reis (DEM), José Carlos Machado (DEM) e Valadares Filho (PSB), além do baiano Emiliano José (PT), então deputados federais, julgaram proveitoso destinar quase R$ 16 milhões para que a ASBT promovesse três edições de uma prévia carnavalesca que afronta claramente uma série de direitos dos cidadãos sergipanos, impedidos de trafegar livremente pelas principais vias da cidade nos dias em que a festa é realizada.
No entanto, a boa vontade dos entes públicos com as empresas que formam o grupo não para por aí. O Pré-Caju foi incluído no calendário turístico e cultural da capital por lei municipal em 1993. Três anos depois, outra lei reconheceu a ASBT como entidade gestora e organizadora do evento. Depois, ela foi agraciada com o certificado de utilidade pública estadual. Hoje, a micareta é reconhecida pelas autoridades como um evento estratégico, uma das principais cartadas para promover o turismo local. Nossos gestores não explicam, contudo, porque depois do investimento vultoso, realizado durante anos a fio, nem mesmo o principal provedor da festa reconhece a capital sergipana como destino apropriado para os visitantes.
Há menos de uma semana, o Ministério do Turismo indicou os 184 destinos para turistas durante a Copa do Mundo de 2014. No Nordeste, só foram contempladas cidades do Maranhão, Rio Grande do Norte, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia e Ceará. O objetivo é aumentar o fluxo turístico e a geração de renda e emprego. Entre os nove estados nordestinos, Sergipe foi o único que ficou de fora.
Para o cantor e compositor Deilson Pessoa, que também integra a direção do Fórum de Música de Sergipe, a iniciativa do Serigy All-Stars já pode ser considerada bem sucedida. Para o coletivo de músicos, importa o exercício da cidadania, o devido respeito à coisa pública, a saúde de nossa democracia. “O espírito do Cacique Serigy com certeza agradece a todos que subscreveram a denúncia que vamos apresentar ao MPF contra a ASBT e a má utilização de dinheiro público na realização dessa festa privada. O que nós, artistas sergipanos, estamos reivindicando é um olhar mais atencioso com a nossa gente e cultura. Só você muda a maneira como é visto”.
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